Ontem, quando eu estava na minha cama, enquanto eu mexia no telemóvel e mandava mensagens, senti uma lágrima a escorrer na minha face... Sentia o meu coração apertado como se estivesse a sete chaves, e o meu corpo gelado. De repente, ouvi:
- Porque choras?
Era uma voz tão suave, que eu desconhecia.. Girei a cabeça para um lado, para o outro, e não via ninguém. Pensava eu: " Quem será?! A esta hora?! Não é ninguem daqui da casa! ", olhei mais uma vez para os dois lados, e de repente vi o meu telemóvel a acender e a piscar as luzes, peguei nele e dei-lhe um abanão para ver o que se passava.. Eu estava mais interessado em saber o que se passava comigo, do que com o telemóvel.
E falaram mais uma vez:
- Cuidado!
Eu, assustado, larguei o telemóvel e encolhi-me todo com medo que fosse alguém a assaltar a casa. Parei, levantei-me e foi dar uma volta à casa, cheio de frio, a ver o que se passava, e nada. Deitei-me de novo, aconcheguei-me e tentei dormir.
Depois, passado várias horas, pareceu-me sentir uma mão suave, a acariciar-me na cara de um jeito muito vagaroso, e meigo. Acordei espantado, e vi o que se passava..
O meu telemóvel estava molhado, e eu a pensar: " Ui! Está-se a passar só pode.. ", e limpei-o aos meus lençóis. Adormeci mais uma vez, e chegou a luz do dia.
Acordei, esperguicei-me e olhei para o telemóvel. Vi ele a acenar-me, e pensei: " Ah?! Que é isto?! Devo estar a sonhar.. ".
Eu não estava a sonhar, era verdade.. O telemóvel acenou-me. Deram-lhe vida, não sei como, e ele começou a dizer-me:
- Ontem, era eu quem te estava a tocar, fui eu quem te chamou. Fiquei preocupado contigo, a tua cara derramava várias lágrimas, seguidamente umas das outras. Foi da mensagem que recebeste? Já viste as coisas que sabemos juntos? Já sofreste tanto, e esta é mais uma das mensagens que te continuam a ferir o coração. Não chores!
Eu, assustado, disse-lhe:
- Eu não sei o que se passa aqui. Apenas sei que me estás a ajudar, sei que sabes muito de mim, sabes mais do que ninguém.. És o meu telemóvel, onde recebo tudo, e envio tudo, onde recebo as mensagens que me conseguem pôr mal, e sem conseguir dar um simples gesto para não doer lá no fundo. Que faço agora? Explica-me..
- João, há amigos e amigos.. Há os que tens desde que nasceste, que nunca te deixaram; Há os que conheceste, e já te abandonaram; Há os que conheceste, e que continuam presentes. Tu sentes saudades daqueles que conheceste à quase um ano, daqueles com quem desabafavas diariamente.. Eu vi tudo! - Disse-me ele com muita sinceridade.
Comecei a desabafar com ele:
- Já não aguento.. Já é desilusão atrás de desilusão. Começo a deixar de conseguir guardar tudo só para mim, já perdi o João de antigamente, ele desapareceu e deu o fim à vida dele. Só me apetece fugir deste mundo, onde há crise atrás de crise, fome atrás de fome, pobreza atrás de pobreza, onde não há, paz e amor. Não consigo ver toda a gente que me rodeia no dia-a-dia, e ver aquelas pessoas que passam fome, e nem um tostão lhe dão. Eu sou pobre, mas sou rico em amor, e carinho. Não consigo mais estar por cá, quero pôr um ponto final na minha vida. Talvez quando os verdadeiros amigos que me deixaram, quiserem voltar atrás, pode ser tarde demais. - Concluí.
Archive for dezembro 2010
[sem título]
Mas onde estou eu?
São nove horas da manhã, levanto-me e vou à casa de banho. Volto para o quarto, e olho-me ao espelho, vejo a minha cara, o meu corpo, e o meu pijama. Sinto algo no espelho a mexer-se, sinto que há algum ser dentro do espelho. Páro, esfrego os olhos, e volto a olhar para ele. De repente, o ser do espelho levanta a mão e convida-me a entrar nele. " Mas afinal, o que é isto? " - penso eu.
Dou o primeiro passado com receio que algo aconteça, e levanto o outro pé.. De repente, fecho os olhos, e cheguei. " Mas onde estou eu? " - questiono-me.
Vejo muita gente vestida com roupas douradas, lembrei-me logo de gente rica. Olho para mim, e sou o único de pijama.
" Que mundo é este? Onde vim parar? " - questiono-me de novo.
Ouço uma voz suave e arrepiante no meu ouvido, que me diz " Estás no mundo encantado, aqui não há sofrimento, muito menos a dor ". Depois de ouvir isto, fiquei quieto com medo que alguém me fizesse mal, e à minha frente só tinha feiras, e muita gente a rir-se. Dou dois paços atrás para ver se há alguma maneira de fugir dali, olho para trás, e não há nada, apenas um bosque escuro e sombrio.
Sigo em frente, como quem não tem medo de nada, e gosta de arriscar. Encontro uma rapariga, sozinha, sentada a uma árvore, cujo fruto era o amor. " Está tudo bem? " - perguntei-lhe eu, com ar de preocupado. " Estou sozinha, sinto-me triste e abandonada... " - respondeu-me ela com ar de tristeza, e começou a soluçar.
Estendi-lhe a minha mão, e com a outra, fiz o gesto de convite. Sorrimos os dois um para o outro, penso que a consegui pôr a sorrir com algumas piadas que lhe contei. Aquele sorriso dela, era brilhante, os olhos pareciam vidro, e as suas mãos, eram suaves como... não sei, acho que não há nada comparado àquelas mãos.
" Mas afinal, se aqui não há dor, porquê esta linda rapariga aqui, assim? " - fiquei eu a pensar..
Ela contou-me a sua história, tinha sido abandonada pelos pais, não sabia deles à mais de mês. Fomos a correr a um idoso, que estava numa tenda com o nome " O Futuro, é aqui! ". Contamos-lhe a história toda, entregamos as nossas mãos, pois podíamos ter algo relacionado.. Ele ficou a rir-se baixinho e pronunciou: " Vocês, são como dois rios.. Um dia, vão se encontrar e vão juntar as vossas águas! ". Saímos de lá, e ficamos a pensar..
Encostamo-nos opostamente, ao lado da árvore da saudade, e disse-me ela: " O que é bom, acaba depressa! ".
Senti um arrepio, depois de ela ter dito o que disse.
Sinto algo a estremecer, parece que o mundo vai cair.. " O que é isto?! " - grito eu.
De repente, passei a estar deitado na minha cama, coberto com o lençol até ao nariz, e ouço a voz da minha mãe: " João, está na hora.. Acorda. ".
Depois disso, deixei-me a pensar, levantei-me, fui em frente ao espelho, trupei e nada aconteceu.. juntei o meu ouvido a ele, e nada aconteceu. " Afinal, isto tudo não passou de um sonho.. ".